segunda-feira, 12 de março de 2018

[RESENHA] A (R)evolução das mulheres - Mindy


Editora: Fábrica 231
Ano: 2017
ISBN: 9788592783297
Páginas: 344
Nota: 4/5

Violência gera violência?

O livro possui como principal plot a história de Alex Craft. Tudo acontece dois anos depois da morte de sua irmã, Anna, que foi estuprada e posteriormente assassinada. O livro se inicia com Alex dizendo que sabe exatamente como matar uma pessoa. Até aí já deu pra ver que é bem pesado, né? Além da história da protagonista, outros dois personagens são construídos: Efepê e Jack. Durante o decorrer do livro são tratados assuntos como cultura do estupro, feminismo, machismo, uso de bebida e drogas, entre outros.

"Vivo em um mundo em que não ser molestado na infância é considerado ter sorte."

A construção dos personagens é um tanto quanto fraca, principalmente da protagonista, uma vez que há várias pontas soltas na história. A única que possuiu uma construção forte foi a própria Efepê. A narrativa é rápida, porém leva um bom tempo para digerir o que se lê. 

"Hoje a noite, usaram as palavras que conhecem, as palavras que não incomodam mais as pessoas. Falaram "vadia". Disseram para outra menina que colocariam o pau na boca dela. Ninguém protestou, porque esse é o linguajar que a gente usa. Mas aí eu usei as minhas palavras, organizadas em frases que calam fundo, e as pessoas prestam atenção; as pessoas ficaram de boca aberta. As pessoas não sabiam o que pensar. Meu linguajar é chocante."

O principal ponto positivo é a facilidade que a escritora teve de narrar uma história pesada colocando conflitos e coisas adolescentes no meio e usando uma linguagem coloquial usada pela maior parte dos jovens. Além disso, não é um livro militante que joga o feminismo na cara, e sim algo que te faz pensar (e muito). Mostrando não apenas o machismo e indo contra a cultura do estupro, mas revelando que as mulheres, muitas vezes, são inimigas entre si e acabam indo umas contra as outras e isso também não deveria acontecer. Tal fato é mostrado em uma das últimas cenas do livro, o que me fez ficar de boca aberta e em choque.

“Ter raiva cansa, mas sentir culpa não deixa a gente dormir.”

Todavia, junto com os buracos deixados na história, achei o livro um tanto quanto exagerado, as coisas que a Alex faz, a maneira como "coisas ruins e machistas" são jogadas no meio da história só para mostrar que estão acontecendo me deixaram um pouco com o pé atrás. Acho que não precisava desse exagero todo. Em contrapartida, ele pode até ser importante para que jovens que não entendam do assunto e leiam o livro passem a entender, então, por um lado, faz sentido.

"Mas "meninos são assim mesmo", é nossa expressão preferida e que serve de desculpa para tanta coisa, ao passo que para falar do gênero oposto, só dizemos "mulheres...", com um tom de desdém e acompanhado de um revirar de olhos."

O final me deixou impactada e cheia de lágrimas nos olhos, fazia tempo que um livro não me deixava assim. A (R)evolução das mulheres é um livro que todos deveriam ler para enxergar um pouco mais como funciona essa sociedade machista e opressora. Devemos nos unir contra isso. 


Sobre a Alex e a justiça
O fato de Alex simplesmente matar aqueles que fizeram algum mal lembrou muito o meu livro, A Garota do casaco vermelho, e achei muito válido falar sobre isso. 
Para Alex, ela estava fazendo justiça e protegendo sua irmã quando matou o seu assassino. Ou quando queimou um cara vivo. E a questão é: isso é certo? Não há resposta que consiga responder essa pergunta de maneira correta. Porque tudo é muito subjetivo.
Alex estaria cometendo um crime, porém é isso que acontece quando estupradores saem impunes porque simplesmente ninguém faz nada. Então, ela resolve fazer a justiça com as próprias mãos. Essas são as consequências.

quinta-feira, 8 de março de 2018

A falta que a falta faz



As palavras sempre nos transmitem tantos sentimentos e reflexões, mas as vezes bastam imagens e uma musiquinha para criar uma conexão bem louca com o nosso interior.
Foi exatamente isso o que aconteceu quando comecei a ver esse vídeo da Jout Jout. Essa falta pode se referir a diversos aspectos da vida, mas, como tinha acabado de sair de um relacionamento um tanto quanto abusivo, refleti justamente sobre isso e os meus buracos.
Ás vezes, a gente acha que precisa preencher urgentemente um espaço que está dentro da gente, é necessário colocar alguém ali para nos dar todo o amor que pensamos merecer. E então, pode não dar certo, aí é só tentar tampar o buraco de novo.
Mas não é assim que as coisas devem funcionar.
Nessas últimas semanas, muita coisa aconteceu e minha vida deu um giro de 360 graus. Foi aí que eu resolvi tomar controle sobre ela. Chorei horrores vendo esse vídeo e tudo o que pensei foi:
Você é o pedacinho que faltava.
Você sempre foi.
E as vezes nem você vai encaixar em si mesmo.
Mas tá tudo bem.
Porque são seus buracos que te fazem ser quem você é e ficar nessa busca incansável para preenche-los com outras mil pessoas ou coisas só faz mal, muito mal, aliás.
Então preencha-se ou admire seus buracos.
É isso.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

[LIVRO] Outros jeitos de usar a boca


E todos os outros poemas presentes nesse livro são assim. É como se, de repente, uma mágica acontecesse e as páginas se tornassem vivas. Grandes mãos ásperas e doces, destroçadas e imaculadas prontas para dar um tapa na cara do leitor a cada página virada. 
Essa obra viva foi escrita pela Rupi Kaur, uma mulher nascida na Índia que vivenciou vários absurdos, sejam vindos da cultura local ou do que estava passando em sua família e vida amorosa. É dividido em quatro partes: o amor, a dor, a ruptura e a cura.
Quando a leitura é feita na ordem, torna-se uma história. Mas a questão é justamente não ser apenas UMA história. É a vida dela e subitamente a sua vida também e a da sua melhor amiga. É sobre ver no outro o que vê - ou não - em você.
Eu poderia até fazer uma resenha desse livro, mas resenhas são tão certas e com enredo e conclusão e desses poemas bagunçados e dolorosos e curadores eu não posso tirar conclusão nenhuma. Porque hoje eu senti uma coisa e amanhã posso sentir outra completamente diferente.
Hoje, um poema me doeu. Amanhã, posso rir dele. Ou ele pode me reerguer.
E essa é a graça.
Obrigada, Rupi, por toda a dor que conseguiu me proporcionar. E por tentar me curar aos poucos. Para existir a cura, precisa existir a dor.
E obrigada por compartilhar conosco a essência da poesia: a alma. nua e crua.

terça-feira, 27 de junho de 2017

[RESENHA] It ends with us - Colleen Hoover


Editora: Hoover Ink
Ano: 2016
ISBN: 9780804177894
Páginas: 395
Nota: 5/5

O amor dói.

Mais uma vez, resolvi me aventurar no universo da Colleen Hoover. Li em uma resenha que o melhor a se fazer era mergulhar na narrativa sem ter ideia do que se tratava. Foi isso que fiz. E fui surpreendida.

“There is no such thing as bad people. We’re all just people who sometimes do bad things.”

A única coisa que posso adiantar é a existência de um quase triângulo amoroso. Sabe aquela velha história de que as pessoas estão ligadas por um fiozinho vermelho e destinadas a se conhecer? Algumas vão dar a volta ao mundo e se encontrar de novo. Ok. Sei que não estou fazendo muito sentido, mas vocês precisam ler para descobrir sobre o que estou falando.



“Just because someone hurts you doesn't mean you can simply stop loving them. It's not a person's actions that hurt the most. It's the love. If there was no love attached to the action, the pain would be a little easier to bear.”


A protagonista, Lily, é incrível. Sempre que vou escrever meus livros e tenho um personagem forte, procuro nomes fortes para ele, e a autora fez justamente o contrário. Isso me chamou muito a atenção. Quando você pensa em Lily Bloom a imagem que vem a cabeça é de uma garota frágil, fofinha, besta e melosa. Engraçadinha até. Parece gênero de chic-lit, aquela personagem que vai fazer altas trapalhadas e ser muito divertida. Pois você está extremamente equivocado.



Lily Bloom é uma protagonista extremamente forte e determinada. Acabou de abrir o seu próprio negócio de um jeito nada convencional e está sempre buscando as melhores coisas, determinada a seguir seus sonhos. Mas nem mesmo as mais fortes e independentes conseguem escapar do lado ruim da vida. Seu passado é extremamente doloroso e seu coração acaba sendo aberto para o amor. De novo.

“Life is a funny thing. We only get so many years to live it, so we have to do everything we can to make sure those years are as full as they can be. We shouldn't waste time on things that might happen someday, or maybe even never.”

Falando em amor. O amor do livro é diferente. É algo bom, mas que machuca. E machuca muito. A autora trouxe um tema muito sério a tona do jeito dela, Colleen Hoover de ser. E acho que o amor, para muitos, é justamente isso, uma prisão. Mas precisamos nos libertar. O único lado negativo disso é que eu já sabia o final da história desde uma determinada parte do livro.


Resumindo, vocês vão entender melhor tudo isso sobre o que estou falando quando lerem o livro. Não é um dos melhores da autora, não chega muito perto dos meus favoritos. Mas é incrível, é necessário, é atual. E é Colleen Hoover.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Resenha: Too late - C. Hoover

Editora: Hoover Ink
Ano: 2016
ISBN:  9780804177894
Páginas: 395
Nota: 5/5

Você não precisa bater de frente para ser uma pessoa forte.

No momento, meu coração abriga um misto de sentimentos. Estou feliz por finalmente estar escrevendo uma nova resenha, mas completamente abalada com o término dessa leitura. Colleen Hoover prometeu usar esse pseudônimo por um motivo, e cumpriu. Too late é completamente diferente daquilo que estamos acostumados. Sim, há um romance, sim, a essência da autora está ali. Mas é uma relação muito mais profunda. Posso dizer que o tema é similar ao tratado em Amor amargo, da Jennifer Brown, mas muito mais pesado.

"You hold a fucking door open for a girl, she automatically thinks you're a gentleman. She thinks you're the type of the guy who would treat his mother like a queen.Girls see guys with manners and think there's no way they could be dangerous."

Durante toda a leitura permaneci extremamente angustiada e querendo vomitar nos capítulos narrados por Asa Jackson. A história envolve um relacionamento abusivo entre ele e Sloan, uma garota cheia de problemas que perdeu um dos irmãos e tem que cuidar de Stephen, que está em tratamento psicológico. Asa trabalha com um esquema pesado de drogas e usa o dinheiro sujo para pagar as despesas do garotinho. Esse é o único motivo pelo qual Sloan permanece presa com ele, mas ao longo da história percebemos que não é só isso. Ela o ama, infelizmente ela o ama.

"Love finds you in the tragedies. That's certainly where Carter found me, In the midst of a series of tragedies."

No meio de todo esse rolo, aparece Carter, ele conhece Sloan em uma aula de espanhol na faculdade e os dois flertam. A Garota consegue flertar e se sentir leve depois de muito tempo. Pode ser clichê o que acontece depois, o garoto começa a trabalhar para Jackson. Mas todos nós sabemos que a autora sempre transforma clichês em histórias maravilhosas, não é?! Essa não é tão maravilhosa assim, mas é genial, é pesada, é angustiante, conseguiu me deixar completamente sem palavras e sem forma alguma de descrever meus sentimentos.

"We are going to fight Asa with the only weapon stronger than he is. We're going to fight him with love."

A maneira com que os personagens são trabalhados é impressionante. Cada capítulo é narrado por um deles e eu conseguia saber com facilidade quem estava falando, tamanha a personalidade dos três. Ela explorou o passado de cada um deles e ainda criou um final atrás do outro e um epílogo depois do epílogo, jogando na nossa cara que a angústia ainda ia demorar um pouco para terminar. Eu odiei Asa Jackson e depois o entendi, compreendi todos os traumas que estavam presentes em sua mente. E odiei de novo, apesar de amar a sua genialidade e querer estudá-la. E odiei, porque ele é sujo. Mas, sinceramente? Talvez ele tenha sido o personagem mais bem construído da autora.Também achei Sloan burra, mas entendi. Percebi que você ser forte não significa necessariamente enfrentar alguma coisa sozinho, as vezes significa aguentar tudo sozinho. E Carter... ainda não sei dizer o que achei exatamente dele, talvez o caracterize como um camaleão.

"She has some yellow ones, but she says those are her special pills, She says she saves those for the days when she wants to go somewhere else in her mind."

De qualquer forma, preciso salientar que esse não é um triângulo amoroso. É muito mais do que isso. Too late me tirou o ar e me fez perceber que, definitivamente, com toda a certeza do mundo, C. Hoover (ou Colleen) é minha autora preferida. Espero que ela escreva mais coisas nesse estilo, também.